sábado, 16 de maio de 2009

Sábado triste


Hoje fora um dia único em João Pessoa. Depois de uma semana toda com muito calor e apenas previsões erradas de chuvas, o sábado acordou de uma forma cinza, chuvosa e tenebrosa. Primeiro saiu para ir numa clínica do SUS que solucione de alguma forma as dores que há tempos venho sentindo. Porém,mais uma vez me deparo com o descaso da saúde pública brasileira. Vejo na minha frente um profissonal decadente, hipocrita e ínfimo. Aquele tipo que não olha pro paciente e não enxerga o tipo de necessidade que ele precisa. Apenas me receita um remedio e ñ me diz nada sobre a minha suposta tendinite e dores no joelho. Saiu do consultorio sombrio revoltada e triste. Com o choro engasgado na garganta,com a revolta retorcendo em ver que sou apenas mais uma nesse sistema e aqueles que estão pra sair de suas Universidades ou lecionam dentro delas são a maioria que ajudam nesta situação fria,falsa e totalmente revoltante.
Contanto,este texto não é para falar apenas de mim. Quando chego em casa,dando tapas no vento,com raiva do médico. Gabriela (minha amiga de quarto) entra dizendo que Seu Paulo está tendo um enfarte. Na mesma hora corro e vou ver o acontecido. Chego no quarto de Dona Socorro e vejo seu Paulo estendido na cama, sem cor de vida. Chamamos imediatamente o Samu. Ligamos 5 vezes pra eles. E mesmo assim houve uma demora de 20 minutos. Neste tempo seu Paulo teve dois enfartes. Enfim, a ambulancia chega e todas nós da residencia ficamos vendo seu Paulo,um querido funcionário da nossa casa, entrar esfalecido no carro. Vimos toda agonia de Dona Socorro, uma mulher apaixonada pelo seu homem,que naquele momento não sabia o que fazer quando viu a possibilidade de perde-lo.
Quando deu meio dia, ouvi algumas meninas chorando. Saí e fui ver o que sucedia. De repente me deparo com a noticia que seu Paulo tinha morrido! Fico atordoada,sem ação. Passo nos quartos comunicando e escutando o choror esguarnecido entre as paredes da residencia. Não conseguimos acreditar como uma pessoa pode ir embora assim, de uma hora pra outra, em seus plenos 45 anos de idade,amando,trabalhando e vivendo. Mais uma vez vi uma pessoa ser vítima do sistema público de saúde brasileiro. Quem sabe se houvesse atendimento médico rápido ele poderia ter sobrevivido.
Enfim, vimos seu Paulo morrer e sentir a dor de ver alguem perder um amor. Perder aquela pessoa especial que para sempre em carne ou espirito não sairá mais da sua vida. Deixo meus grandes sentimentos de solidariedade e compaixão a esse homem que pouco conheci,mas que sempre fora prestativo dentro do seu trabalho,dentro da sua casa, a sua esposa e amigos. Desejo que sua alma seja elevada aos céus e que o seu "final" fique de alguma forma como aprendizado para os outros e exemplo de busca da felicidade e do amor. E desejo de toda minha alma que a felicidade sempre se encontre na vida de Dona Socorro e que fique claro que o amor não foi perdido ou morto. Ele foi apenas estendido para a eternidade.
Força e coragem a dona Socorro e boa viagem a seu Paulo.

Jackeline Moreira

domingo, 10 de maio de 2009

Infinito Particular


“Infinito particular”, conjunção de duas palavras que reflete a imensa sonoridade da vida, do interior de cada um. Podendo refletir as nossas buscas, os nossos medos, as nossas alegrias, a solidão que tenta nos invadir por dentro. Mas, o que desejo nesse momento falar é do fator mais infinito particular que posso conhecer que invade a alma de todo ser dessa vida. Falo do amor, do ser amado, do sentir e ser sentido. Afinal, há algo mais infinito particular do que isso? Já diz Marisa Monte em uma de suas músicas – És o pior e melhor de mim...
Paradoxo difícil de ser explicado e compreendido, quando os obstáculos e preceitos da vida influem. Ficamos na resoluta questão em viver objetivamente, em seguirmos um paradigma como ponto final. Daí eu me pergunto: - Qual é o ponto final? Até onde podemos viver uma vida, sem viver uma outra vida? Até onde nossa expressividade e palco despido (onde não estamos usando máscaras) podem ser colocados para fora? Creio que a resposta é bastante difícil de ser interlocutada. Ainda não sei até onde posso responder. Nem se vivesse 80 anos posso saber por definição.
Porém, sei que seguir de uma forma branca, sem cor, nos tira o gosto e sabor. Viver sem estar à espera, nos tira a rosa que temos dentro de si. Andar sem pensar em dividir, nos tira a solidariedade que carregamos dentro de si. Sonhar e não compartilhar, nos tira a essência que temos dentro de si. Viver sem amar, nos tira a vida que temos dentro de si.
A cada dia que passo, a cada passo que dou, reparo no que falta no caminho da vida. Desprender-se do medo quando ele aparecer, deixar ser levado quando ele aparecer, ouvir a sua palavra quando ele aparecer, sentir o seu toque quando ele aparecer. E ele, não é nada mais do que o simples e infinito particular amor. Sentimento único, indissociável que consegue ser justaposto a outros. Sentimento do qual, nunca quero que esteja longe. Pois, a sua falta transforma a vida em algo vago, seco e indolor.
Jackeline Moreira

sábado, 2 de maio de 2009

Momentos


A vida consegue ser toda preenchida por momentos. De fé, de descrença, de alegria, de tristeza, de amor, de ódio, de carinho, de amargura, de honestidade, de falsidade, de vida, de morte. Enfim... Todos os paradoxos existentes possíveis a englobam. A circundam de forma dinâmica e sempre mutável. De uma forma única e inesperada.
Cada momento se faz único de se sentir. Todo mundo deveria reparar nisso. Se tem olhos que o veja e se o ver que repare. Momentos não são momentos apenas para deixar passar despercebido. São para serem sentidos. São para ser degustados, cheirados, tateados, ouvidos. Mas, ouvidos não apenas com os ouvidos e, sim, com a alma.
Deixemos sempre o tempo passar e consigo a leva de momentos vai junto. Deixemos sempre passar aquele amigo que não vemos há anos porque nunca temos crédito no telefone ou o MSN não está pegando ou apenas estamos fazendo trabalho e não podemos ser incomodados. Atenção virtual é a moda do momento. Deixemos sempre o estar junto com a família, pois ela também começa a ser escanteada pelas circunstancias que a vida nos obriga. Deixemos sempre um amor passar, porque o profissional sempre esteve em primeiro lugar. Deixemos de sermos felizes por vários ângulos, por vários parâmetros porque aspiramos a única coisa do momento: realização profissional. Deixemos de cometer loucuras, porque a normalidade da rotina já incrustou dentro de cada um. Deixemos enfim, de ouvir, de degustar, de tocar, de sorrir, de chorar na frente do seu amigo, de falar Eu te Amo (porque essa palavra pode trazer muito comprometimento), de dizer o quanto você é importante para mim. Finalmente, deixemos de verdadeiramente sentir.
Pergunto-me inúmeras vezes se ninguém repara nisso. Se ver e não enxerga. A luta pela vida de cada um é imposta pelo externo. Pobre de quem não percebeu isso, no quanto sua vida é manipulável. Pena que a produção disso está sendo em série, pena que as pessoas não reparam mais. Devido a isto fico, eu. Sentada, olhando, vendo as coisas acontecerem, tentando falar. Porem, muita gente sem querer escutar. Infelizmente, a corrosão é contínua e se a esperança não me tocar, eu também estarei afetando-me pela falta de viver momentos. Nessa hora que sinto que nada é eterno se não for vivido. (Jackeline Moreira)