terça-feira, 7 de julho de 2009

Uma visão da cegueira (Livro: Ensaio sobre a cegueira; José Saramago)




Primeiramente, comprei o livro. Pois, sempre acho que as palavras escritas te fazem ter mais liberdade da sua própria criação de cenários. Todavia, nunca desmerecendo o articular das imagens já prontas, dos roteiros visuais. Mas, falo de descrição a fundo, de trabalho psicológico criado por cada um. Em seguida, comprei o filme e prometi apenas assistir quando terminasse de ler o livro.
Para quem tem alguma sensibilidade perante os causos complexos e simples da vida ou para quem sofre de algum distúrbio visual, eu recomendo que leiam este livro. Saramago tem como foco nesta história a forma e descaso que as pessoas tem sobre a grande dádiva que o poder “ver” e no não saber valorizá-la.
As pessoas começam a viver por acomodação, por contagem regressiva perante a sociedade. Mas, devemos também, compreender que isso são frutos de umm sistema voltado ao consumismo, ao pragmatismo, ao deixar de ver o real com os próprios olhos e admitir que seja visto pelos olhos das câmeras de TV. Onde, o povo passa pelas imagens transmitidas e não se dão conta que tais imagens são suas próprias vidas.
Ver não significa tudo. Tem gente que ver, mas não repara. E é neste ponto que Saramago quer chegar, fazer as pessoas refletirem. Olhar para o céu e não apenas enxergar nuvens, ter ouvidos, boca, coração e realmente senti-los diante do que se pode ver ou não ser visto.
Quando a esposa do médico é privilegiada em não ser atingida pela cegueira, ela tem o total poder em verdadeiramente sentir todas as emoções possíveis de forma crua. Ver de forma dura a ganância humana, a traição, a fraqueza, a dor, o medo, a antiespiritualidade, e mesmo assim ainda ver do tamanho de um grão de areia um ponto de luz da esperança.
Só depois de passar por tantas lamentações que levam você a ir no fundo do poço do ser humano, nos damos de conta de que ver não é apenas enxergar.É também, ouvir, fechar os olhos e sentir. Para quem corre o risco de perder a visão, não igual ao livro de Saramago, pois ali é uma obra fictícia, para quem tem olhos para ver o mundo de outra forma, não nos deixemos levar pela superficialidade que a vida pragmática nos condiciona. Entendam! Ela não nos obriga por si só, ela nos condiciona nos transformando em bonecos monitorados pelo abstrato real. O grande problema se engrandece quando isso já está inscrustado em nós. Causando perturbações no nosso ver, na nossa sensibilidade e nos fazendo perder o que podemos ter de mais grato: poder ver de uma forma para dentro.

Jackeline Moreira